Como este é um ano de grandes mudanças, ficamos receosos de grandes aventuras ou repetições de roteiros. Daí, estávamos assistindo a uma série nacional no streaming - Cidade Invisível - e disparou a vontade de ir para a Amazônia. Estudamos um roteiro e decidimos quebrar a viagem em 4 pedaços: Belém urbano, Alter do Chão, Manaus urbana e um lodge no meio da floresta para fechar. De Alter do Chão até Manaus fomos de barco, cerca de 48 horas no rio Amazonas.
Apesar de longo, o vídeo vale cada segundo, e não só pelas paisagens…
Créditos:
Início do vídeo com a escultura de Thiago Martins de Melo "A cruz que penetra Pindorama", exposta na mostra “Brasil Futuro: as formas da democracia” no Centro Cultural Casa das Onze Janelas, depois ensaio no Theatro da Paz, ainda em Belém da apresentação “Duo de Piano” com Gustavo Carvalho e Cristian Budu. Apresentações de rua em Alter do Chão.
Mercado Municipal de Carne
Havíamos decidido em aproveitar a cidade, sem passeios pelo rio e ilhas já que a partir de Belém a ideia era entrar pelo mato. Passaram-se muitos anos desde de quando morei por la, portanto, as diferenças são enormes. A cidade está transformada, mas o charme continua. Entremeado com as diferenças gritantes, cheiros diferentes e paisagens. Lugares muito bem estruturados como a Estação das Docas, Casa das 11 Janelas e Forte do Presépio. Os parques e as praças públicas limpas e cheias de vida com seus coretos e instalações muito bem preservados. A gastronomia é um capítulo à parte, há de se esquecer do sabor dos refogados para conseguir apreciar uma outra culinária, mais regional, mais natural. A sensação de passagem de tempo também é impactada, o tempo parece que perde o sentido à beira do rio e da mata. Para fechar a estadia, fomos em um recital de duo piano no Theatro da Paz. Muito bom!
Estacao das Docas, um lugar muito bem restaurado
A beleza da mistura fantástica de elementos dos povos originários com os artefatos da Belle Epoque
Forte do Presépio
Casa das Onze Janelas, história interessante e um ótimo lugar para ver o rio Guamá
O constante contraste das palafitas, arte, cultura, céu, nuvens e paisagens
Na Casa das Onze Janelas, uma das instalações multimídia mais interessantes que já vimos: de Thiago Martins de Melo "A cruz que penetra Pindorama"
Começando a falar de forma simples. Seria algo como um Vale do Capão (Chapada Diamantina) na beira do rio Tapajós, apesar de que tem saídas por todos os lados e o Vale do Capão não, só a estrada de terra ou a chapada. Mas o clima é parecido, suave, boa paz e limpo. Como em Belém, a cultura raiz é visível, cheirável e degustável. Folcloricamente dançável. A trilha para a vovozona, sumaúma quase milenar, tem quase 19 km dentro da floresta de tapajós mas é tranquila. Muitas informações valiosas dadas por guia da comunidade Maguari sobre a fauna, flora e costumes locais. Para chegar na comunidade são cerca de 1 hora e meia de lancha veloz. Tivemos o prazer de um grupo de médicos que estavam em missão e duas amigas simpaticíssimas de Arraial d’Ajuda e San Francisco. Saímos de Alter às 9 e retornamos quase 20 horas. À noite uma voltinha descompromissada para vermos música muito gostosa na rua.
Os demais passeios foram ficando cada vez mais envolventes, apesar do nome (sei que é uma questão pessoal), a Floresta Encantada (conhecida anteriormente como Floresta Alagada) é deslumbrante, preferimos ir à pé e só lá embarcar na canoa. Entrar em uma mata mergulhada na água, onde os caminhos são trilhados entre caules, frutos e flores é uma sensação além da magia e do misticismo, é simplesmente lindo. Outro passeio imperdível é o canal do Jari, atravessar o rio Tapajós impressiona pela largura e beleza da água. No canal é possível ver os botos e na trilha da preguiça, a paisagem que vimos na floresta encantada é agora povoada por preguiças, corujas, muitos saimiris (macaco esquilo), jibóias e aves. No final do canal chegamos na casa de D. Dulce para uma maravilhosa degustação de pratos derivados da vitória régia, incrível o que pode ser feito, de pizza a brownies.
Pôr do Sol no pico Pira Oca
Trilha na FLONA, culminando com o encontro com uma sumaúma de cerca de 800 anos - a vovozona
Passeio de canoa pela Floresta Encantada (ou Alagada), em Caranazal
Ainda a sumaúma
Vale do jari, trilha da Preguiça
Alter do Chão tem uma programação musical de rua além das expectativas. Às quintas tem o Carimbó em uma versão raiz, de rua, pura, delicioso de se assistir. Às sextas tem um chorinho puxado para o regional, sonoramente cativante.
1o piso do barco, só carga
Por sorte nossa, o barco estava bem vazio
Pensávamos em 38, mas na realidade foram quase 48 horas de barco. Acreditamos que seja uma viagem indicada só para quem tem tempo e queira curtir a viagem, se não, melhor pegar um avião. Tivemos sorte e o barco estava até que bem vazio, mesmo que tenhamos decidido ir em um camarote. Existem prós e contras, como em tudo. Os serviços estavam acima de nossa média de expectativa, não que fossem muito bons, mas, ainda melhores do que esperávamos. O restaurante é limpo, a comida por quilo e, digamos, boa, não reclamamos. Já o café da manhã não atende. No último piso tem um bar que funciona o dia inteiro, a coxinha é boa também e as cervejas tem preço justo, mas não espere Heineken, no máximo uma Tijuca Pilsen, e se você gosta de sertanejo e músicas afins em volume alto, estará no nirvana. O camarote tem banheiro, ar condicionado e frigobar - e o preço é o mesmo das redes se você dividir em tres pessoas. Mas não deixe de levar toalhas e sabonete, e se você não tiver problemas com roupas de cama limpas, porém velhinhas, estará tudo certo. Ficar em redes, como um motorista de Uber em Manaus disse que, para ele, é impensável viajar com alguém que você não conhece peidando e roncando a poucos centímetros de distância de você. É verdade. O camarote fica para dormir apenas, pois o lance é aproveitar o tempo para sentar no chão (não tem cadeiras fora do bar no último piso, com a música alta lembre-se) e curtir o entorno. Quanto à limpeza e higiene, é bem razoável para um barco que é um ferryboat com cargas perecíveis e que pára em portos regionais, em outras palavras, aquelas baratinhas pequenas e não voadoras são constantes, inclusive no camarote.
Mas a viagem… Você nem percebe os problemas do barco. As paisagens são indescritíveis e apreciar o vento, a proximidade com as margens (de Santarém à Manaus eles “colam” nas margens para evitar a correnteza do rio), a mistura de pensamentos e sentimentos com as comunidades ribeirinhas - grileiros, indígenas, gado, subsistência, religiões - e uma natureza que transborda a alma, nuvens, chuvas, pássaros. Pôr do sol, foram dois magníficos. Como descrevê-los? Impossível. Nem fotos, nem vídeos, nem palavras. Só sentimentos.
Pôr do sol
O barco vai passando muito próximo das margens.
O céu é sempre um espetáculo à parte
Ou seja, ficar apreciando a paisagem, é um processo quase que hipnótico
Voltar para uma civilização depois de Alter do Chão e da viagem de barco até Manaus deixa qualquer cidade em situação desfavorável. Mas Manaus surpreende. O povo parece ter consciência da incomparabilidade com a natureza, portanto, as pessoas são extremamente acessíveis - a ancestralidade indígena predomina, olhos puxados e cabelos incríveis. Conhecer o Teatro Amazonas e ouvir a história da riqueza na época da Belle Epoque dos seringueiros é fundamental para compreender os constrastes sociais, urbanos e econômicos que tem como consequência o que testemunhamos hoje, na atualidade. A mesma história de Belem, a mesma história dos coronéis da cana no nordeste, enfim, nossa história do Brasil. Desigualdades, injustiças e o pior, o que ouvimos - era assim, continua assim, e a mesma situação política está aí para permanecer. Urbanamente falando, Manaus é tudo isso.
Voltando às belezas, fazer as trilhas do MUSA - Museu da Amazônia, conhecer o bioma e ouvindo os monitores do museu à céu aberto é imperdível, é necessário para ver o quanto é indispensável o engajamento para manutenção do que é a Amazônia, floresta, povos ancestrais, cultura e riqueza. Não podemos de forma alguma permitir que outros interesses façam desaparecer estes conhecimentos como aconteceu em tantos outros momentos da humanidade.
Ficamos em Manaus de 29/05 a 03/06, fomos para o Tupana Lodge Hotel e depois retornamos à Manaus de 03 a 05/06.
Visitamos 3 cacheiras em Presidente Figueiredo, à uns 100 Km de Manaus, Maragoara, Lagoa Cristalina/Rio Vermelho e Iracema. O que impressiona entre as três é a mudança de paisagens e florestas. As nascentes são de água transparente em cachoeiras que surpreendem pelas cavernas de arenito que lembram muito as paisagens do filme Avatar (dizem que uma equipe de filmagem ficou por lá por uns meses - buscando inspiração). Foi um passeio inesquecível para fechar esta viagem.
A beleza do Teatro Amazonas
Mercado Municipal Adolpho Lisboa, belas estruturas desenhadas por Gustave Eiffel
Detalhe do Mercado Municipal
Torre de observação no Museu da Amazônia
De um lado dá para ver Manaus e do outro a imensidão verde
Trilha de acesso para Maroaga
Primeira gruta/cachoeira
As grutas impressionam, não estávamos esperando por tanta beleza
Trilha
E na trilha uma "pequena" tarântula
2a gruta/cachoeira
Sem palavras
A água é transparente
2o passeio: rio vermelho
Raízes que crescem sobre pedras
3o passeio, Iracema, raízes que se espalham pelo chão
Grandes galhos que se lançam sobre a água
Grutas que protegem a natureza
E a natureza protegida pelas grutas
Passeio de canoa com remo na mata, nossa sorte, apesar do calor, sem mosquitos por causa da época de cheia
O acesso para Tupana Lodge não é uma viagem fácil, um transfer do hotel em Manaus para o porto onde pegamos a lancha, a travessia até Careiro da Várzea, novamente um transfer em uma estrada em estado muito ruim até até o encontro com o Rio Tuapana e novamente uma lancha que nos leva até o Tupana Lodge. Entre Manaus e Careiro da Várzea, a lancha pára para percebermos o encontro das águas em uma maneira diferente, pelo tato, sentindo que a água do Rio Negro é mais quente do que a do Solimões, basta deixar a mão na água quando a lancha se move lentamente de um rio para o outro. Fascinante. A paisagem vai se transformando enquanto a lancha vai adentrando a floresta, e ao chegar no Lodge já é outra bem diferente.
Natureza forte, calma, silêncio e calor são as palavras que mais vem à mente. O hotel mantém energia ligada em alguns intervalos de tempo, mesmo que o som do gerador nem chegue, estes momentos de total desligamento - não tem internet - trazem uma sensação de descolamento total de nosso cotidiano. Ouvir os pássaros, conviver com os animais entrando e saindo dos espaços como se nós nem os incomodássemos, alimentar o boto que vem duas vezes ao dia procurando as mãos carinhosas do povo, como a anta que vem para o jantar e a arara que não desgruda das pessoas, é uma sensação muito prazeirosa.
Como já havíamos feito alguns passeios em Alter do Chão, entrar na floresta, seja caminhando ou pelo rio, não é novidade. As novidades vem pelas novas plantas, paisagens, saídas de barco à noite procurando por jacarés e novas explicações que diminuem nossas dúvidas e aumentam exponencialmente nossa indignação com tudo de errado que põe este paraíso em risco constante.
Indo passar a noite na mata
Mosquiteiro apropriado
Pato assado na brasa, não era um tour de sobrevivência, mas de convivência
Uma das companheiros grudendas, Blue, muito simpático
A boto que vinha 2 vezes ao dia para comer peixe fresco na nossa mão
Céu de beleza indescritível
Focagem de filhotes de jacaré, com todo o respeito
Mais céu
Redário para lagartear e curtir somente os sons da floresta
De caíque pelos igarapós