Gozar é uma necessidade vital do ser humano, é se sentir vivo, potente, divino.
Sexo, sexo, sexo... prazer, prazer, prazer... virgindade, virgindade, virgindade...vagina, vagina, vagina... pênis, pênis, pênis... engravidar, engravidar, engravidar... tesão, tesão, tesão... instinto, instinto, instinto... repressão, repressão, repressão... gozo, gozo, gozo...
Chega uma hora que o corpo pede, exige, perde a razão, se entrega, se deleita, se lambuza, se embriaga em uma irresponsabilidade infinita. Para nós que nascemos nas décadas de 50, 60, fomos assombradas pela censura, vigilância e desinformação de tudo que pudesse estar conexo ao sexo. O massacre que se instituiu para reprimir a mulher de tudo que estava ligado ao sexo era descomunal. E como os nossos hormônios não tinham o mesmo tratamento, criava-se o conflito, o corpo se debatia em um frenesi desconcertante: desejo, dor, prazer e culpa.
Tenho 3 irmãs e 2 irmãos mais velhos, deles só um não se casou grávida/do, e isso se tornou o pesadelo da minha adolescência, eu seria a salvação moral de toda uma família e a única mulher que poderia propiciar essa tão aspirada purificação ética moral. Sofri em segredo pelas gravidezes inesperadas das minhas irmãs, com a rejeição. Escutava as confidências que elas trocavam à noite, pois, dormíamos as 4 no mesmo quarto, sofria em silêncio, fingindo não ouvir, disfarçando estar dormindo.
A mais velha do que eu 3 anos, engravidou com 17 anos, já noiva, ele, que era de outra cidade, acabou fugindo e deixando minha irmã ainda adolescente abandonada ao próprio destino. Foi difícil para ela, mesmo com o apoio dos meus pais e dos amigos, ela enfrentou preconceitos que deixaram marcas até hoje, tanto no filho que nasceu sem pai, como nela (mãe) inexperiente, imatura, ainda estudando e de repente, viu seus sonhos se transformarem em pesadelos, vergonha, preocupação, culpa. Ela sobreviveu com sequelas! Eu sobrevivi com experiência!
Esse relato é só para figurar a repressão dos anos dos quais fui influenciada, 50, 60 e 70 (e em algumas famílias até hoje) foram cruéis com as mulheres. As mulheres deveriam ser santas e os homens garanhões, faltava preparo das meninas e o sexo era exaltado para os homens. Eles deveriam ter sua primeira experiência sexual o mais cedo possível e quanto mais experimentassem, de mais virilidade poderiam se gabar. Idade das trevas para sexo, é claro que já tinham as mulheres quebrando essa barreira, o mundo já estava fervilhando com o movimento da “Liberdade sexual”. Ainda bem, consegui minha libertação em tempo de me reestruturar moral e emocionalmente e me curar dos traumas da infância e adolescência. Livre, mesmo que eternamente repreendida ou incompreendida!
O sexo não envelhece, ele amadurece, ganha profundidade, confiança, dignidade e um bocado de prazer. O gozo é uma representação da não morte, da não estagnação, e ele sempre vem com um certo tom de rebeldia e de extremo egoísmo. O que sai de dentro do humano em forma de pensamento e sentimento, não envelhece, o que envelhece é o que é físico. Aiaiai, então os órgãos sexuais envelhecem? Sim, e como, tem muita gente que fica desesperado, mas acho que tudo tem seu tempo. E como ninguém sabe quando os órgãos vão lhe dar uma rasteira, então, é melhor se cuidar, temos os hormônios: mas causam demência, mas tudo causa alguma coisa, temos que fazer as escolhas. E com uma boa orientação a vida sexual se mantém extremamente prazerosa. Toda aquela inquietação jovial e desesperada em busca do sexo vai ficando mais restritiva, seletiva. Nem tudo lhe satisfaz e você já não quer mais se arriscar em uma tentativa pouco convincente. E assim ele não precisa acontecer todos os dias, ou ter dias marcados, ele vai acontecer quando tudo em volta e internamente estiver em harmonia. Os dois falam com mais facilidade sobre seus gostos, gestos, carinho, posição, negação. A gente se perde no tempo, mas acho que alcançar essa maturidade no sexo pode levar tempo.
O autoconhecimento da mente e do corpo assume um fator importante para a realização. A masturbação continua sendo um excelente momento para você ficar e se saciar com você mesma. É impressionante como a masturbação lhe mantém segura, viva e confiante, atingir o orgasmo por você mesma, é algo egoísta, insano e extasiante. E também ajuda a nos entender sexualmente com o outro, porque os dois ao terem um conhecimento profundo do seu corpo e mente, tendem a conhecer o outro simultaneamente.
Mas os perrengues acontecem. Inesperadamente acontece uma prostatite, como é difícil encarar o conceito coletivo, inserido em nossa mente. A gente tenta dominar o medo, a angústia. Tínhamos acabado de mudar para cá, estávamos felizes, montando o apartamento e de repente o Joca aparece com dores pelo abdômen. Vai em um médico, em outro e se descobre uma próstata aumentada pressionando a uretra. Susto, não conhecíamos nada aqui, e aí decidimos que seria melhor o Joca ir para São Paulo (nosso filho ainda mora lá), PSA alto, suspeita de câncer, de impotência (isso o que todo mundo fala, cirurgia de próstata o risco é grande). Biópsia, uma infinidade de exames, tudo foi feito, e ufa, não era câncer, mas cirúrgico. É claro, por melhor que seja a cirurgia, os métodos aplicados, a robótica, mesmo ainda assim, tem o risco da impotência. Falamos abertamente sobre isso e ficamos seguros de que se algo acontecesse daríamos um jeito.
Tudo aconteceu na mais perfeita ordem, a cirurgia foi perfeita e o resultado ainda melhor, pois algo que já estava incomodando foi totalmente corrigido. Se reestabelece a juventude sexual com maturidade, e vejo no avanço da medicina uma vitória para nós que estamos envelhecendo.
Envelhecer sem medo fisicamente é ao mesmo tempo deixar que seu espírito embarque também nessa onda e lhe entupa de experiências. É juntar tudo que vivemos até agora e abrir uma porta para que continuemos aprendendo. A rebeldia deve estar sempre presente nos enfretamentos com a sociedade e com os conceitos já preestabelecidos, não devemos deixar que tolham nosso pensamento e nem que nos calem, estamos ficando velhos, somos velhos envolvidos por um profundo conhecimento da nossa sexualidade e da nossa intensidade.