Como espectador assíduo da série The Crown, posso dizer que conheço mais a família Mountbatten-Windsor do que a minha, também grande e com figuras realmente muito interessantes. Já escrevi sobre tio Orlando, tio Neca, Lisu, meus avós e minha trisavó. Mas nada se compara aos Windsor: seus hábitos, suas jóias, suas adegas, castelos, a frota de Land Rovers e o Aston Martin conversível. No meio da quarta temporada, estou acompanhando a vida de Charles e Diana. Ora, nada mais edificante!
Charles Philip Arthur George nasceu em 1948 e imagino que lá pelos 12 anos sabia que se tornaria rei algum dia. Sua mãe foi coroada com 26 anos e não seria exagero que Charles supusesse que na década de 1980 ou 1990 sentaria no trono da coroa, ou melhor, no da Coroa. Mas, não, aos 72 anos, o Príncipe de Gales pode afirmar que passou a vida na fila. Sua ansiedade deve ser enorme e parecida com a minha quando tenho que ir ao banco ou a uma repartição pública para cumprir uma formalidade. O pobre Charles foi condenado a esperar, mesmo sendo o primeiro da fila, pois, na sua frente, tem uma senhora com a bolsa pendurada no braço e prioridade para pagar as suas contas. E haja contas! Imagino o desespero do príncipe.
Seu primeiro casamento, soubemos, foi outra fonte de frustração, mas, depois de viúvo, Sua Alteza Real pôde oficializar a união com a Duquesa da Cornualha. Sim, este é o título. Além de Príncipe de Gales, Charles é o Duque da Cornualha. Mas a questão de fundo permanece a mesma. Elizabeth II parece ter tomado o elixir da imortalidade herdado do Conde Fosca, protagonista do romance Todos os Homens são Mortais de Simone de Beauvoir. Quem leu o livro ou sua orelha sabe que a escritora francesa aborda a imortalidade como uma danação. Fosca, conde italiano do século XIII, atravessa os séculos e participa incólume dos eventos mais impactantes da história da humanidade, mas, ao mesmo tempo, convive com a dor de assistir ao envelhecimento e à morte de grandes amores, filhos, netos, bisnetos…
Assisto a essa quarta temporada sem pressa. Nada de ansiedade! E a calma me permitiu concluir que, tal como as mãos invertidas das ruas do Reino Unido, a ordem natural das coisas não comanda a família Windsor. Ao que tudo indica, a ascendente sobreviverá ao descendente e Elizabeth ou Lilibeth, para íntimos como nós, ainda renderá centenas de capítulos e temporadas. Não sei se estarei vivo para saber como seu reinado terminará, mas o fato é que não há nada mais importante do que acompanhar a vida da Royal Family. Como dizia Joãozinho XXX, rei do Carnaval por muitos anos, pobre gosta de luxo e não perco nenhum capítulo. Ah! E aqueles chapéus?!