Chapada Diamantina
Foto: deixando o Vale do Capão, término da 1a subida
Foto: deixando o Vale do Capão, término da 1a subida
Para absorver o máximo da trilha percorrendo o Parque nacional da Chapada Diamantina, um lugar que só se entra mata adentro por jegue, mula ou a pé. Ainda intacto, exuberante, com vales, montanhas, mata atlântica, rios, cachoeiras, flores, pássaros, frutas e muito mais.
Como encontrar essa beleza no coração da Bahia? Dicas e relatos de amigos, todos os que foram adoraram, e aí ficou a coceira. Começamos pesquisar na Internet, muita informação, e daí, como filtrar? Quantos dias? Por onde entrar? Analisando, tirando dúvidas com quem já foi, ligando para as agências e guias cadastrados nas associações locais. Finalmente, ufa! Encontramos alguém que nos inspirou confiança: uma agência em que os donos são os próprios guias, a Chapadatur Ecoturismo, do Edwilson e da Adriana (excelentes). Fechamos o trekking de 5 dias, mais completo, saindo do Vale do Capão, em um lugar conhecido como Vale do Bomba e saindo por Andaraí. Mas existem outras opções como entrando por Guiné e saindo por Andaraí, ou entrando e saindo pelo Capão. A escolha do roteiro e duração depende da condição física de cada pessoa e do tempo de trilha.
Lençóis é uma ótima opção para a entrada na chapada, tem várias agências e a associação de guias (ACVL) e um aeroporto (poucos voos na semana). Lá você pode ter todas as informações dos passeios da chapada, os níveis de dificuldade de cada trilha, quantos dias ficar, e se você consegue fazer a trilha do Vale do Pati.
Nossa dica para quem vai para a chapada, deve fazer pelo menos 3 dias de trilha no Vale do Pati. Pois, é natureza e mais natureza, com trilhas difíceis para chegar nos atrativos, mas vale muito a pena. Os passeios feitos fora do Vale do Pati, tem acesso fácil, que podem ser feitos sem o acompanhamento de guias, com cobertura de Internet (o que muda tudo). Mas, assim você pode encontrar os lugares lotados, com pessoas com interesses diferentes, barulhentas e até com caixinhas de som (incomodam), sem nenhuma consciência ecológica. Mas isso somos nós, outros podem até gostar...
Muitas atrações ficam próximas a Lençóis e outras nem tanto, com acesso um pouco mais difícil por estradas de terra. O ideal é dividir os pernoites entre Lençóis, Vale do Capão, Mucugê ou Igatú, caso você não tenha muito tempo e dependendo dos atrativos escolhidos, pode ser feito Lençóis e Vale do Capão ou Lençóis e Mucugê.
No roteiro de 5 dias que fizemos com o Edwilson e Adriana (Chapadatur), a caminhada é sempre durante o dia, imersa na natureza, contemplando os atrativos, e o descanso nas casas de apoio que tem dentro do Vale. As casas de apoio são simples, hoje tem aproximadamente 14 casas e 36 pessoas morando no vale, que oferecem hospitalidade, boa comida (jantar e café da manhã), roupas de cama e toalhas limpas. É o lugar onde encontramos com os outros trilheiros e trocamos experiências sobre a percepção de cada um na caminhada, dificuldade, beleza... É a hora de trocar ideias e saborear juntos uma ótima refeição (fantástico).
O nome já é convidativo
Quando chegamos ao Vale do Capão no final da tarde de sábado (14/12/19), já sentimos a energia do lugar, o telefone já não tinha mais sinal, o povo amável, receptivo, bons ouvintes e pacientes, cultos, com uma beleza rara que não se encontra mais em outros lugares.
Arte por todos os lados
Astral muito bom!
A noite um ótimo jantar preparado pela Chef Mariana do Adega do Bai - excelente carta de vinhos!
No dia seguinte o guia nos pegou na pousada e entramos na trilha pelo Vale do Bomba, tivemos sorte, pois choveu bastante naquela noite, e o Vale fica muito mais atrativo com os rios e cachoeiras cheias. Passamos por paisagens lindíssimas, apaixonantes, uma vista inimaginável do Vale do Capão com seus vários morros, misturando pedras e vegetação com verdes variados, entre chuva fina e sol, as cores deixavam a passagem ainda mais exuberante
Paramos em um lugar conhecido como Poço do Rancho, uma pausa para tomar um banho de cachoeira e lanchar. A segunda parada mais longa foi no Rampa, em se tem uma vista de todo o Vale do Capão e aí seguimos para primeira casa de apoio, da dona Léia. Foram percorridos 25 km com níveis baixo, médio e alto, o esforço e cansaço é recompensado pela beleza do Vale.
Belo lanche preparado pelos guias: Adriana e Edwilson.
Poço do Rancho
Um banho no Rancho para aliviar/preparar os pés!
Indo em direção à famigerada Rampa
Pausa para contemplação
Descida da Rampa, para depois subir a ladeira do Capeta
Ladeira do Capeta à frente. À esquerda fica a igrejinha (não visível) e à direita, subida para o Cachoeirão
Paisagens que sempre impressionam
Reflexo do pôr do sol na pedra, cores e sensações fantásticas!
Acordamos cedo, depois de um reforçado café da manhã fomos caminhando, com direito a encontro com uma simpática cascavel, até o Cachoeirão por cima, com um cânion com cerca de 300 metros de queda livre, saímos com chuva e chegamos no Cachoeirão com sol. Ufa! Que lindo! Vimos 16 cachoeiras, umas mais fortes e outras mais fracas, plenitude total. Foram 19 km dentro de uma passagem deslumbrante e já sabíamos que o faríamos também por baixo no 4o dia de trilha, a expectativa aumentava ainda mais. O cansaço desaparece com tamanha beleza, ficamos anestesiados e voltamos para casa de apoio com a certeza que no próximo dia teríamos ainda mais morros, matas, rios para desbravar.
Palavras não são suficientes para exprimir as sensações e emoções que sentimos com este contato com a Natureza. Ficar alguns dias sem energia, sem Internet e ter esta visão, este contato, não tem como falar, só vendo.
No caminho para o Cachoeirão por cima, uma parada para aliviar os pés e encher os cantis no poço das Laranjeiras.
Ângulo obrigatório para entender o que é uma visão negativa
Indescritível a visão
É preciso muita coragem, nada para quem já subiu o Wayna Pichu, certo Rose? ;)
Visão negativa das quedas, impressionante!
Sem comentários!
Sol sempre bem vindo
Vertigem?
Continua a contemplação ainda na volta para a casa de apoio.
E aí explica-se como a recuperação do cansaço e das dores acontece neste ambiente. São várias maravilhas o tempo todo, e você acaba voltando com um astral muito para cima, pronto para tomar um banho frio, jantar uma comida muito gostosa, maravilhar-se com um céu sem poluição nenhuma, limpo, e capotar na cama para um novo dia na próxima manhã.
Manhã de quarta-feira, o dia amanhece nublado, o que é bom para caminhar nas trilhas para o Morro do Castelo e enfrentar 4 horas de subida íngreme com obstáculos, como pedras, rios e muito cansaço, o que novamente é recompensado pelo exuberante visual. Chegamos no alto, passamos pela gruta e saímos do outro lado do morro com vista para o Vale do Rio Lapinha, toda a extensão do Vale Pati. De lá subimos até a parte mais alta do morro que se pode chegar, com uma vista total do Gerais do Rio Preto, serras, cachoeiras, morros. E depois descer tudo e ir para as cachoeiras, Poço das Bananeiras, Cachoeira do Funil e Cacheira do Lajeado. À noitinha chegamos na casa de apoio do Sr. Aguinaldo, encontramos outros mochileiros muito legais, hora de descansar, conversar e ficar em volta de uma fogueira no quintal da casa. Caminhada de 14 km.
Pausa para descanso no meio da subida do Morro do Castelo
Para continuar subindo o Morro do Castelo, é preciso atravessar uma caverna para o outro lado e continuar subindo mais...
Passando para o outro lado e ainda subindo, as paradas para são visuais impressionantes!
Contemplação
Já dá para ver algumas pessoas no topo, estamos chegando!
No topo! Hora do descanso, contemplação, almoço e, descer para ainda chegar com luz!
A descida, passando pela caverna, acabou sendo ainda mais cansativa do que a subida. Haja joelho e dedos do pé... Um cajado, mesmo que improvisado, ajuda bastante!
Saída da gruta, descida rumo às cachoeiras!
No Vale do Pati, indo para o rio.
Cruzando o Rio Pati, abaixo das cachoeiras.
Poço das Bananeiras
Cachoeira do Funil
Efeito espelho abaixo da Cachoeira do Lajeado
Dormimos um sono bom, de realização, a expectativa era grande para conhecer o Cahoeirão por baixo no dia seguinte. Acordamos e seguimos a trilha, paramos em uma casa de apoio que era a Prefeitura do lugar e mantém esse nome, um lugar lindíssimo, com a vista do Morro do Castelo onde você consegue o porque do nome dada sua semelhança com um Castelo. Passamos por áreas fechadas pela mata, muitos pássaros cantando, duas cobras e caminhamos muitos quilômetros pela margem do Rio Cachoeirão. Uau! Chegamos! É impressionante a vista de baixo do Cahoeirão, já não tinha tantas quedas quando vimos por cima dois dias atrás, mas ainda magnífico. As quedas d’águas a 300 metros de altura e formam de poço embaixo, onde tomamos um banho revigorante. Voltamos para casa de apoio deslumbrados com gigantesca beleza da natureza, um mundo aparte, diferente para nossos hábitos tão consumistas. 18 km percorridos, finalizando na casa do Sr. Joia, lindíssima a natureza naquele canto, a casa fica entre morros, mata, rio...
Boa parte da trilha é feita pelas margens do rio
Morro do Castelo, visto da prefeitura
Andar pelas pedras é cansativo
Prefeitura
Mas outras partes da trilha são bem tranquilas
Chegando ao final da trilha, um poço para renovar
Adriana, nossa guia
Lá no topo, o Cachoeirão por cima
O poço do coração
Uma surpresa depois da outra
Caminho para a casa de apoio do Sr. Jóia
Dia de sair do Vale do Pati e ir para Andaraí, a caminhada se torna menos emocionante, mesmo com a beleza da vista de cima da Ladeira do Império. Estamos deixando um paraíso para trás, e novamente encarando as cidades, os celulares já começam a dar sinal de vida, as mensagens chegando, acabou nossa imersão na natureza. Mas, ainda temos alguns dias pela frente, visitando as algumas cidades da Chapada e os atrativos que estão fora do Vale. Caminhada de 12 km.
Casa de apoio do Sr. Jóia e a tranquilidade do Pati de baixo
O último amanhecer no vale
Subida do Império, uma via cheia de história
Despedida do Pati de baixo
Andaraí é o nosso ponto de chegada, todos os guias levam os trilheiros para a Sorveteria Apolo que fica no centro. A cidade já está perdendo sua característica histórica, apenas o centrinho ainda tem a arquitetura do século XIX. Mas a cidade oferece acesso a diversos atrativos da região. Não ficamos muito tempo em Andaraí e fomos visitar Igatu.
Igatú, outro lugar super gostoso, pequeninha, mas cheia de história do garimpo na região e bem preservada. Podemos imaginar o que se passou no Brasil na época, pelas ruínas das casas dos garimpeiros, feitas de pedras e aproveitando as rochas da montanha. Andando pelas ruas de Igatú, percebe-se o apogeu e a decadência da exploração, pelas marcas da história você vê um museu a céu aberto. É um lugar que a gente pode ficar dentro da chapada para conviver com todo esse acervo, hoje é tombada pelo IPHAN, e ter como ponto de partida para várias atrações da região.
Mucugê é uma cidade pequena, bonita, agradável, rodeada por montanhas e com atrações culturais durante o ano. Foi nela que apareceram os primeiros diamantes da Chapada da Diamantina em 1844, também tombada pelo IPHAN e preserva suas características arquitetônicas. Nela se encontra o cemitério bizantino, que foi criado com a epidemia da cólera por volta de 1855 em que muitas pessoas morreram e já não se podia mais enterrar pessoas nas áreas das igrejas e assim foi escolhido um local em cima das montanhas, de frente para a cidade. Os túmulos imitam templos católicos e estão preservados como obra de arte importante para o patrimônio histórico da chapada. E depois de uma breve visita pela cidade, fomos para Igatú.
Centro de Andaraí, uma cidade tranquila, acostumada com os trilheiros
Igatu, gostosa, parada no tempo.
Memória da época dos garimpeiros, difícil acreditar no movimento que havia por aqui
Ainda existem casas que aproveitam as pedras
Basta umas paredes e um pedaço de telhado
Cemitério Bizantino de Mucugê, histórias sobre epidemia de cólera, muito dinheiro e arquitetos europeus
Depois de sairmos do Vale do Capão, passamos na Fazenda Pratinha para um mergulho e subimos o Morro do Pai Inácio para o por do Sol. Existem várias cavernas na região, mas resolvemos deixar para uma próxima vez.
Saindo do Vale do Capão...
Gruta Azul
Muito bom o banho nas águas cristalinas
O mergulho na gruta escura, por flutuação é imperdível! A água é cristalina, os peixes, bem diferentes dos marítimos, são muitos na entrada. Como a caverna fica na escuridão total, fica difícil saber para onde apontar a lanterna, para o fundo d'água ou para o teto.
Depois de tantos dias, é difícl deixar a Chapada e ir embora
Só contemplação
Lençóis nos surpreendeu, uma cidade preservada, hospitaleira, com muita música, bons restaurantes e pessoas decoladas, também tombada pelo IPHAN.
A cidade fica sem movimento durante o dia, as pessoas saem para os passeios e a tarde voltam para curtirem a noite, que é muito animada, muita música nas ruas, restaurantes com boa comida e pessoas andando de um lado para outro o tempo todo, muito gostoso.
Durante o dia, pacata, ótima para caminhar
À noite, intensa, ótima para sentar e curtir!
Casario antigo, colorido e bem conservado
Ficamos andando de rua em rua, apreciando a noite. Uma ótima forma de voltar o contato gradualmente com a realidade.