Rose e Joca
Viver sem medo, idade ou preconceito. Apenas sentindo, buscando e movendo. E como não conseguimos muito ficar quietos, continuamos a explorar o que tem de bom por aqui, por ali, por acolá.
Viver sem medo, idade ou preconceito. Apenas sentindo, buscando e movendo. E como não conseguimos muito ficar quietos, continuamos a explorar o que tem de bom por aqui, por ali, por acolá.
Assim somos nós!
O andar, movimentar, ir, vir, trocar de lugar, enfrentar desafios e principalmente o medo. Para muitos deixar tudo para trás e conhecer o desconhecido é motivo de estresse, ansiedade..., mas para outros é uma forma de renovar, criar novas expectativas, como dizia uma amiga “vocês alimentam o casamento de vocês, com as mudanças de cidade, emprego, deixando tudo para trás”. Pode ser.
E como começou? Para mim, nascer em uma cidade pequena, pode ter sido a diferença. As escolas terminavam no terceiro colegial, e aí tínhamos que ir para outra cidade para fazer a faculdade. Nossa! Excelente! Melhor oportunidade da minha vida, morar em república, viver com pouca grana, construir amizades sólidas e transgredir bastante. Tudo com certa responsabilidade... Ficar em dependência em alguma matéria, nem pensar! Engravidar então?! Meu Deus – a quase desgraça, o estigma de uma geração. Mas o resto podia, muitos congressos em universidade de outras cidades, muitos shows, festas, noites que se tornavam nas manhãs das aulas de sábado. Mas tudo era regido por uma madura responsabilidade, acho que vinha daquela coisa da criação do interior, tínhamos que viver e conquistar aquilo que nos era proposto.
E aí, a faculdade acabou!
Mas o gosto pela independência, pela liberdade e da responsabilidade com a sua própria consciência permaneceu. Mas, e o emprego? Onde encontrar? Desespero! Voltar para casa dos pais, nem pensar. O jeito é se aventurar. O último congresso do curso foi em recife e lá tínhamos feito contato com algumas pessoas, foi o suficiente para que eu e uma amiga acreditássemos que poderíamos nos dar bem lá. Que nada! O dinheiro acabou, o emprego demorou... Ufa, mas veio. E aí começa uma nova vida de conquistas e muita, muita liberdade, descobrimento de potencial, capacidade e gosto bom de desafiar o medo e de vencer.
E lá fiz muitos amigos, encontrei pais adotivos que cuidaram de mim, passei pelos meus perrengues com dignidade, aprendi a curar minhas gripes febris sozinha. Dividia o apartamento com uma amiga, até que ela se casou com um americano e se mudou para os Estados Unidos. Fiquei sozinha, já tinha tido várias experiências com namorados, machistas, possessivos, consegui navegar.
E já nessa ida da minha amiga, conheci meu marido, o Joca! Carioca que estava trabalhando em empreiteiras de engenharia pelo Nordeste, bem, deu certo, casamos e estamos juntos ainda descobrindo lugares, cidades.
Já eu, nascido numa pequena família do Rio, tive uma infância previsível para uma cidade grande. Subindo em telhados (e caindo), indo para praia de carona, subindo o Alto da Boa Vista de bicicleta para ir nas cachoeiras, e curtindo muito com os colegas de ginásio e científico da época, amizades que se mantém até hoje. Na faculdade, em Petrópolis, a felicidade na época era morar em repúblicas, o que fiz por cinco anos. Era um outro tipo de vida, como a Rose, com muita responsabilidade e uma dose exagerada de sorte.
Em lugares diferentes, eu e Rose tínhamos os mesmos sentimentos, medos e iniciativas. Depois da faculdade o buraco negro do mercado de trabalho me levou a continuar fora de casa, atrás de oportunidades que outros não valorizavam. Trabalhando no interior e morando em Belém, depois Fortaleza e por fim, Maceió, onde nos conhecemos em um pub chamado London London, que servia um ótimo caldo verde, na praia.
Rio de janeiro
Joca teve que voltar para sua base, Rio, ou eu ia pra lá ou o namoro acaba. Fui, casamos e nove meses depois nasceu nosso primeiro filho. Inexplicável a maternidade, é mesmo aquilo que toda mulher fala. Bem, quatro meses depois do filho nascer, mudamos para Petrópolis. Como o Joca tinha feito faculdade e tinha muitos amigos por lá, a qualidade de vida falou mais alto... Ótimo lugar, ótima vida, ótima descoberta, e aí tivemos nossa segunda filha, outra sensação inexplicável. Mas depois de 5 anos, chegou a hora de encontrar novos rumos.
Ribeirão Preto, Lins, São Paulo
Entre Ribeirão e Lins ficamos também mais ou menos 5 anos, tivemos mais dificuldade em nos adaptar ao interior, longe das praias, saudade e ansiedade pelo urbano e então, mudamos para São Paulo. Onde tivemos muitos desafios, as crianças crescendo, muito estudo de todos os quatro, muito trabalho e muitas viagens. Nessa época viajávamos mais pela américa latina, depois fomos expandindo nossas viagens internacionais. Foram muitas!!!!!
Intercâmbios internacionais
Uma experiência que penso todos deveriam ter, não tem idade e sim maturidade. Nossos filhos foram com 16 anos. O filho ficou em uma casa de família na Holanda e estudou em uma escola pública por um ano. A filha ficou na França também em casa de família em uma escola particular que recebia intercambistas. A separação física deles foi dolorosa, chorei durante 3 meses na ida do primeiro filho, sentia uma dor física, uma saudade que não tem como descrever, mas fui me adaptando à distância, ele estava superbem e a família dava muito apoio. Voltaram com uma visão bem diferente pela convivência com diferentes povos, mais tolerantes e com um aprendizado cultural, social, psicológico diferenciado, amadurecido.
Meus intercâmbios, Vancouver, Londres, São Francisco
Na onda dos meninos também quis experimentar, comecei já estava com mais de 40 anos, e quando fui para São Francisco com mais de 50. Era velha? Claro que não, uma das melhores experiências da minha vida. Como os filhos, também ficava em casa de família, convivia com estudantes de várias nacionalidades, jovens, mais velhos, uma delícia. E sempre no final de cada um deles, o Joca me encontrava e fazíamos uma viagem de pelo menos mais 20 dias pela região.
Moçambique
Mas ainda faltava algo, queria vivências diferentes, estava trabalhando em ONGs e não via resultados concretos, os filhos já crescidas, independentes (ainda não financeiramente). E aí procurando encontrei uma vaga na ActionAid para trabalhar em Moçambique, me candidatei e deu certo, fui para fazer um projeto de um ano em Maputo e pelas províncias. O trabalho era desafiador, costumes, cultura, objetivos, mas enfim, era o que estava procurando. Nesse ano, além do trabalho consegui conhecer bastante de Moçambique, África do Sul, Índia, Singapura e Indonésia. Voltei meio desconectada com o Brasil e levei um bom tempo para me readaptar aos nossos costumes. Essa e outras viagens foram de total importância para meu amadurecimento e formação, emocional, social, cultural. Hoje tenho muitas histórias para contar e muitas imagens de lugares e povos e posso ficar por horas revivendo-as.
Voltando ao Nordeste
E aí, mais 5 anos em São Paulo, o urbano é fascinante, a cultura, a cidade que não dorme, cheia de oportunidades. Mas, chega uma hora que bate a coceira e queremos outras coisas, já não estávamos respirando bem (poluição), nosso filho na residência de medicina e a filha partindo para Berlim. Chegou o momento, vamos encontrar um lugar bacana para morar, o Joca e eu nos conhecemos em um encontro de pés na areia que depois de alguns movimentos tomaram vida própria e ficaram se acariciando. E olha no que deu, essa família deliciosa que temos e essa oportunidade de escolhermos, o que, quando e onde queremos estar. E assim estamos crescendo junto com essa molecada.
Rose Junqueira e José Carlos Junqueira