Sim, estou envelhecendo
Lívia Milena
Essa frase do título ainda me assusta muito. E ainda estou elaborando esse fato. Sim, desejei por muito tempo viver na juventude, ou que ela morasse em mim eternamente. Na verdade continuo amando a juventude. Vivi a minha com muita intensidade. Mas esse ano completei 31 anos na semana do lockdown em São Paulo devido a pandemia do covid-19, o que tornou esse processo ainda mais desafiador.
Para além das determinações etárias que são construídas socialmente, tenho sentido as mudanças no meu corpo e nas minhas atitudes: o metabolismo está mais lento e isso tem me levado a repensar e a mudar meus hábitos alimentares (grande desafio para uma baiana da gema como eu). Ainda não consegui incluir a atividade física na minha rotina, mas é uma meta para o próximo ano que se aproxima. O sono está vindo mais cedo, bem como o cansaço físico e mental. Moro sozinha desde 2014, mas só agora estou curtindo decoração de casa, plantinhas, passar os domingos em casa cozinhando e lendo um livro. Quem diria? Logo eu que estava sempre disposta pra todos os rolês que era convidada. Pois é, não posso negar, estou envelhecendo e preciso buscar alternativas para que esse processo seja o mais prazeroso e saudável possível.
Ainda tenho dúvidas se esses sintomas são por conta da idade ou simplesmente efeitos colaterais de morar há dez anos em uma cidade como São Paulo.
Apesar de amar a juventude, sou amante do tempo e das possibilidades de transformações que ele nos traz, considero que ele me fez muito bem. Com a experiência me sinto mais segura em todas as áreas da vida e me tornei mais bonita, por dentro e por fora (sem nenhuma modéstia), mais feliz e livre, embora também seja mais consciente das mazelas desse mundo.
Considero ainda que para o povo ao qual pertenço estar viva(o) a cada aniversário é se contrapor às estatísticas do genocídio negro em curso.
Estou tendo que lidar com as frustrações da vida adulta. Tendo consciência que diante dessa sociedade desigual, de fato esforço individual não é suficiente. Aliás, esforço foi tudo o que não faltou àquela jovem negra e nordestina que corajosamente mudou para o sudeste e trilhou os melhores caminhos possíveis, mas ainda assim a mulher de quase 32 anos não está sendo recompensada por tanto esforço...
A terapia me ajudou a encarar os monstros que me assombraram na infância e adolescência e tenho lidado melhor com eles. Discernir o que é meu e o que é do outro, acredito que seja a tal da maturidade que tanto busquei.
A vida em coletividade me dá energia e esperança por um mundo mais justo e humano, o que faz a vida ter mais sentido.
Sigo tendo grandes sonhos, acredito que eles não envelheçam como o nosso corpo, mesmo diante de uma pandemia global, sorrio para vida e espero que ela seja leve pra essa mulher que venho me tornando.