As surpreses de um pinto maduro


Marcos Castro Cunha


Tive uma dificuldade muito grande para encarar uma mulher. Não, não tinha dúvidas do que queria, e queria muito, mas, e a capacidade de sedução? A insegurança? A timidez? Tem uma fase da infância, novinhos, somos os comedores da turma, tudo mentira, claro, nem sabíamos ou sentíamos o que estávamos falando, mas quem poderia dar o mole? Logo depois, quando os hormônios começam a pipocar, e as meninas ainda na escola a desabrochar com os primeiros sutiãs, é quando assumimos nossa condição de inexperientes e nos inebriamos com os casos dos mais espertos ou mais velhos, contando detalhes da maciez ao toque, da sensualidade, e ficávamos sonhando com nosso dia e nossa vez. Mas o tempo vai passando e o desespero aumentando, perder a virgindade então passa a ser um caos para o ego, não para a virilidade. E o tempo passou, virgem e já na faculdade? Já? E, ainda não? Como? Era uma vergonha, como entrar nas conversas dos amigos? Vergonhoso! Pois é, mas a natureza sempre nos ajuda e quando a dúvida de nossa sorte paira como um agouro, a coisa acontece e o momento aparece. E entendemos que toda a maravilha anunciada por tudo e todos não vem de imediato, o encanto, a paixão, a necessidade de toda hora vai cedendo a um lento conhecimento até adquirir uma sexualidade madura.


Dizem “caiu de maduro”.

É o medo de todo homem.


Coitados de nós, ele nos acompanha desde sempre, solidário com nossas esperanças, receoso e medroso com as comparações. Ele é maior do que os dos outros meninos? Será suficiente para atender aos desejos delas? Mas, em sua solidariedade ele é intempestivo, nem sempre responde como deveria. Porque o pênis, pinto, esse é meio bobinho, liga no automático, é descontrolado, leva tempo para ser domesticado, às vezes parece com uma biruta maluca. Ah, e pode falhar, brochar... Mas, cair de maduro? Credo! Quero não! Todo homem tem uma relação muito próxima com o seu, apelidos, piadas, sentidos figurados e fantasias. Quem não as teve, deve ter problema com o seu. Eu não. Muito companheiro. Mas fica com ciúmes, ele quer dividir a atenção que não é só dele. A vagina o instiga, provoca, o deixa meio tonto, sedutor, arrogante, inquieto...


Vagina, nome estranho, quem sabe perereca? Não! Pior ainda. Xoxota é mais gostoso para falar, mais soft, como o maciez do toque imaginado na infância. Mas o nome ainda não convence, não é o melhor. Na faculdade me sentei em uma mesa em que estava entalhado na mesa mais de 50 nomes a ela atribuídos. Todos eles maravilhosos, muito bons! Fiquei imaginando se o cara que se deu aquele trabalho foi um caso de virgindade longa, como o meu. Quantas aulas ele perdeu entalhando discretamente e, a cada talho, uma faísca de paixão que aumentava o tesão. O cara me inspirou, foi contemporâneo na minha odisseia! Criei um vínculo no éter e logo me dei conta de que elas falavam e tinham vida própria, talvez até mesmo dentes como alguns apregoam por aí. Coisinha difícil de ser domada é a tal vagina, não bem ela, mas a dona dela, com certeza era a minha falta de jeito inicial para encará-la e o desespero do meu companheiro pinto. Porque com todo o resto a quem ela pertencia eu navegava bem, conquistava com meu olhar carinhoso, pensando bem, será que foi isso que demorei tanto tempo para descobrir, ela não tem olhos?


Demorei mesmo para decifrá-la, contei com a ajuda de algumas meninas prodigiosas, encantadoras e muito conhecedoras de suas vaginas, pode ter sido a minha sorte.


Fui me identificando com a vagina, a encarava e por incrível, passei a ver os olhos nela, e ela me encarava de volta em um movimento ritmado, com aparência de flor desabrochando, pequenos ou grandes lábios, com o clitóris proeminente apontando trêmulo para mim. Aprendi que as nuances daquele orifício tão pequeno era um olho-d'água de prazer, pureza e perversão. Toda ela conduzida por um corpo e mente que poderia variar pelo humor, razão, tesão. Acabei me dando bem com elas: vagina, corpo, mente, tesão...

E aí a gente vai descobrindo uma montanha de carinhos, orifícios, gestos, posições que te levam a redenção.

Mas como falei do pinto, ser meio sem graça, mas que tem a capacidade de se expressar em jatos como fogos de artifício, jorrando a uma distância considerável, lhe deixando atordoado de prazer. Mas pode também te deixar na mão, com cara de bobão e uma frustração que lhe deixa acabrunhado com a parceira. Enquanto se é jovem, ele te decepciona menos, obedece bem a seus instintos, desejos. Mas, olha lá cara! Você não deveria fazer isso comigo depois de tanto tempo juntos nessa estrada da luxúria, de tanta dedicação e aprendizado.


Agora com meus 65, já com no âmbito do conhecimento mais pueril e profano do sexo, em que consigo prolongar todas as sensações travadas entre os dois corpos, pinto, vagina, seios, bunda, cada pedacinho de toda a existência sexual. E não é que o filho da puta me dá uma rasteira? Levamos anos para nos aprimorar na arte do sexo anal, de mais entrega, mais cuidadoso, delicado, requer bem mais estímulos e um pinto apontado em riste (duro como um pau). E aí que vem com mimimi, a criatura fica meio molenga, se assusta com aquele orifício fechadinho e por mais lubrificante que a gente passe ele se nega a entrar. Totalmente frustrante, a conversa com ele tem que ser longa, ele não pode insistir em nos maltratar. Em nos frustrar, afinal, eu, “toda elas” (parceira, vagina, bunda, seios, botão, todo o seu ser como um coro delas), todos estão na sua expectativa por ser um ser maduro, dono de si e cheio de confiança, pode até demorar, mas como disse no início, para os homens, todos os momentos com as vaginas, seios, bundas, botões, sempre os levam a um reencontro com a infância, suas aspirações, medos e fantasias.


Ele sempre será o companheiro inseparável, nas conversas vindouras, sentados em uma varanda, eu e ele, os dois viajando nas lembranças e fantasias, com uma compreensão mútua da vida longa e proveitosa juntos, para nós e "toda elas”, com nosso amor irrestrito e morno. Maduro.